8 de dez. de 2009

O mito da Rapoza

"Raposas
A raposa seria um animal profundamente ligado ao elemental da Terra, assim sua proximidade com a terra, a floração, a colheita, como em sua relação com Inari. Existem lendas ligando as raposas e a floração das cerejeiras ou pessegueiros, por exemplo. Em outros povos, esta relação é igualmente encontrada. Entre os mitos europeus, por exemplo,
os gnomos, entidades vinculadas à terra, viajam cavalgando em raposas, animais com os quais têm uma relação especial. Assim, a relação entre Kurama e suas plantas é perfeitamente compreensível, apesar de não saber se assim ocorre com todos os youkos e demônios raposas. Essa tradição de proximidade provavelmente encontra fundamento no fato da raposa sempre habitar em covas subterrâneas, que ela escava no solo. Já a raposa oriental, embora seja a mesma raposa que corre nas florestas do ocidente, encontra um papel especial nos mitos orientais.

Na China, de onde se originou este mito, as estatísticas lhe conferem uma média de vida que oscila entre 800 e 1000 anos. Neste país é comum encontrar raposas habitando em túmulos, e daí surgiu a idéia da raposa como ser psicopompo (nome dado aos seres que acredita-se guiar os mortos para seu lugar de destino após a morte).Os homens, quando morrem, costumam transmigrar em corpos de raposas, ou acompanhados das mesmas. Chegava a ser temida por poder vir a vingar-se dos vivos por erros dos mortos, com os quais comungava, passando a conhecer-lhes seus segredos.

Seu papel é bastante ambíguo. Para alguns, é considerada de mau agouro e para outros é um animal benevolente. Conta a lenda que o imperador chinês Yu viu uma raposa branca quando buscava por uma noiva, e entendeu isso como um sinal de bom presságio.
A raposa possui diversos poderes especiais. Conhece o segredo da longevidade, tem afinidade com o fogo e pode produzi-lo golpeando a terra com a cauda e causando incêndios, ou simplesmente cuspindo uma bola de fogo. Ela também prevê o futuro e sabe o tempo de sua própria morte, a qual enfrenta com dignidade. Cada parte de seu corpo usufrui de uma virtude especial. Pode assumir muitas formas, preferencialmente de anciãos, jovens donzelas ou eruditos. É astuta, cautelosa e cética; seu prazer está nas travessuras e nos tormentos.

Existem milhares de lendas sobre ela. Aqui segue uma:


"Wang viu duas raposas paradas nas patas traseiras e apoiadas a uma árvore. Uma delas tinha na mão uma folha de papel e riam como que compartilhando um gracejo. Tentou espantá-las, mas se mantiveram firmes, então ele disparou contra a que segurava o papel. Feriu-a no olho e levou consigo o papel. Na estalagem contou aos outros hóspedes sua aventura. Enquanto falava, um cavalheiro entrou, e observou que tinha um olho ferido. Escutou com interesse o relato de Wang e pediu que lhe mostrasse o papel. Wang já ia mostrá-lo quando o estalajadeiro notou que o recém-chegado tinha cauda. "É uma raposa!", gritou, e imediatamente o cavalheiro se transformou no animal e fugiu. As raposas tentaram várias vezes recuperar o papel, que estava coberto de caracteres indecifráveis, porém fracassaram. Wang resolveu voltar à sua casa. No caminho encontrou-se com toda a sua família, que se dirigia à capital. Disseram que ele lhes havia ordenado essa viagem, e sua mãe mostrou a carta em que lhe pedia que vendesse todas as propriedades e se reunisse a ele na capital. Wang examinou a carta e viu que era uma folha em branco. Embora já não tivessem teto que os abrigasse, Wang ordenou: "Regressemos." Um dia apareceu um irmão mais jovem, que todos haviam dado por morto. Perguntou pelas desgraças da família e Wang contou-lhe toda a história. "Ah!", disse o irmão quando Wang chegou à sua aventura com as raposas, "aí está a raiz de todo o mal." Wang mostrou o documento. Arrancando-o de suas mãos, seu irmão o guardou com presteza. "Finalmente recuperei o que procurava!", exclamou, e, transformando-se numa raposa, partiu!"


Nos mitos chineses consta ainda a viagem de Da Yu, o deus que inspecionava o mundo, em sua criação, no processo de controlar as águas. Durante suas viagens, observava coisas extraordinárias, que ia anotando e depois narrou-as aos seus ministros, criando o Shan Hai Jing, o Livro dos Montes e Mares. Narra uma série de monstros e bestas, demônios que povoam já o mundo. Entre os diversos tipos de seres meio animais meio demônios, descreve as raposas, animais de um gênero especial, comumente de nove caudas, esbeltas e sempre muito chamativas pela beleza, com seus focinhos pontiagudos, pêlos dourados ou prateados e espessas caudas. Por trás da beleza, eram na realidade criaturas extremamente manhosas, e podiam se transformar e metamorfosear em várias criaturas, até em seres terríveis, embora por vez usassem tomar a figura de lindas jovens, com o intuito de atrair os homens para o interior das florestas e devorá-los.

Os mitos chineses geraram muitos dos mitos japoneses, e a lenda da raposa tomou forma e consistência na cultura nipônica. No Japão, as raposas são popularíssimas sobretudo na ilha de Hokkaido, onde são numerosíssimas. Chegam a correr livremente em meio as lavouras e cidades menores, embora lá sejam vistas, em função das lendas que as seguem, com mais respeito e estima que em outros países, como na Inglaterra, em que armadilhas e iscas envenenadas aguardam as que sobrevivem aos caçadores.

As lendas das raposas japonesas, idênticas às lendas chinesas, descrevem o animal inteligente e cínico, que gosta de pregar peças, tomar formas alternativas para enganar ou atrair suas presas e especialmente se disfarçar sob a forma humana, podendo ser entretanto flagrada por quem tenha dons especias, que consegue enxergar-lhe a cauda. Ou por pessoas que estejam próximas da morte.

As raposas participam do filme "Sonhos" de Akira Kurosawa, no primeiro dos sonhos, que descreve o castigo vivido pelo menino ao assistir à uma cena que é fácil de ser vista em meio à neve do final do inverno... o acasalamento das raposas."

Artigo retirado de http://www.ccvteam.com/forum/showthread.php?p=216573

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